Summary: | Embora as mulheres figurem hoje no cenário educacional como legítimas para o ensino decrianças, nem sempre fora esta a realidade presente nas escolas uma vez que os primeirosprofessores de crianças foram homens. Isso nos permite cogitar a presença de um movimentoprodutor deste espaço e das mulheres enquanto legítimas para o exercício da profissão docentede crianças. Hoje, com o retorno dos homens ao cenário da Educação Infantil, vemos umadesestabilização das representações normativas que definem o status ontológico da educaçãodas infâncias - não somente como um fazer de mulheres, mas um lugar para mulheres. Estetrabalho teve como objetivo mapear os enunciados sobre trabalho docente, gênero esexualidade nos principais documentos regulamentadores da Educação Infantil. Nossa apostainvestigativa seguiu em problematizações a partir da agonística social da feminização naeducação das infâncias. Desconfiados de que a legitimação das mulheres como aquelassupostamente destinadas para ocuparem a docência de crianças, trata-se, na verdade, de umagenciamento destas em função da manutenção de certa concepção de infância, erigidas a partirde dispositivos de gênero e sexualidade que buscam administrar as infâncias, apostamos naevidência de um jogo discursivo que configura a criança como ser puro e sem desejos sexuais. Apesquisa foi elaborada em perspectiva qualitativa e orientada teórico-metodologicamente pelascontribuições do campo dos estudos culturais e de gênero, em seu viés pós-estruturalista e emdiálogo com estudos foucaultianos na educação. Apresentamos aqui recortes de umagenealógia (enquanto historização do presente) sobre a constituição da educação infantil comolugar generificado/r, a partir da análise de documentos oficiais de políticas públicas paraEducação Infantil. As entradas de problematização que construímos neste percurso investigativoapontam que os documentos analisados sustentam uma lógica de subjetivação do docente quetrabalha com crianças, por meio de dispositivos de gênero e sexualidade que aprisionam a figura da mulher-professora. Hoje, o que podemos afirmar, é que o campo daeducação infantil se configura como um campo em disputa. Não uma disputa por simpleslugares/espaços, motivada pela busca por emprego ou acessão social, mas pela legitimidade,pelo direito ao trabalho – a produção de modos de vida – sem (ou minimizando) a violentainterpelação do gênero e da sexualidade. Neste movimento, proliferam enunciadosessencializadores que trabalham na hierarquização das competências por gênero, produzindocomo efeito regulador a participação “alienígena” dos homens nos processos educativos dasinfâncias.
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